MISTÉRIO DA REDENÇÃO
Centro
luminoso do ano litúrgico, o grande mistério pascal celebra o amor do Filho de
Deus em remir os homens.
O nascimento,
a vida oculta e pública do Salvador oferecem exemplos de santidade; a sua
doutrina apresenta o caminho do céu. Jesus não é somente a causa exemplar, isto
é, o modelo em que nos devemos amoldar. É também a causa meritória e eficaz de nossa salvação, isto é, o autor desta, porque
a mereceu por nós com sua Paixão e Morte.
O
ciclo pascal compreende:
1ª) O Tempo da Quaresma, período de preparação, recordamos a criação,
elevação e queda do homem; também o homem reparando o próprio pecado com o
arrependimento e a penitência.
2ª) A Semana Santa ou Semana Maior,
nos é apresentado o Salvador reparando, com sua Paixão e Morte, os pecados da
humanidade.
3ª) A Celebração – festa e Oitava da Páscoa – lembra a vitória de Jesus
nosso Senhor sobre o pecado e a morte. O Prolongamento
– as cinco semanas da Páscoa, a Ascensão e a festa de Pentecostes –
representa o triunfo final de Jesus e da humanidade, por ele redimida,
confirmada pela vinda do Espírito Santo sobre a Igreja fundada por Cristo.
TEMPO DA QUARESMA
Na linguagem
corrente, a Quaresma abrange os dias que vão da Quarta feira de Cinzas até a
Quinta Feira Santa .
A Quaresma
pode ser considerada, no ano litúrgico, o tempo mais rico de ensinamentos.
Lembra o retiro de Moisés, o longo jejum do profeta Elias e do Salvador. Foi
instituída como preparação para o Mistério Pascal.
Data dos
tempos apostólicos. – A Quaresma como sinônimo de jejum observado por devoção
individual na Sexta-feira e Sábado
Santos, e logo estendido a toda Semana Santa. Na segunda metade do século II, a
exemplo de outras igrejas, Roma introduziu a observação quaresmal em preparação
para a Páscoa, limitando porém o jejum a três semanas somente: a primeira e a
quarta da atual Quaresma e Semana Santa. A verdadeira Quaresma, com os quarenta
dias de jejum e abstinência de carne, data do século IV.
O jejum
consistia originalmente numa única refeição tomada à tardinha; por volta do ano
1000 antecipou-se para as três horas da tarde e no século XV tornou-se comum o
almoço ao meio dia. Com o correr dos tempos, verificou-se que era demasiado
penosa a espera de vinte e quatro horas; foi-se, por isso, introduzindo o uso
de se tomar alguma coisa à tarde, e logo mais também pela manhã, costume que
vigora ainda hoje. O jejum atual, portanto, consiste em tomar uma só refeição
diária completa, na hora de costume: pela manhã, ao meio dia ou á tarde, com
duas refeições leves no restante do dia.
COMENTÁRIO
DGMÁTICO
“Todos
pecamos, e todos precisamos fazer penitência” afirma São Paulo. A penitência é
uma virtude sobrenatural (intimamente ligada à virtude da justiça), que inclina
o pecador a detestar o pecado, a repará-lo dignamente e evitá-lo no futuro.
Os motivos
principais, que nos obrigam à penitência são:
a) O dever de
justiça para com Deus, a quem devemos honra e glória, o que lhe negamos com
nosso pecado;
b)
A nossa incorporação com Cristo, o qual, inocente, expiou os nossos pecados;
nós, culpados, devemos associar-nos a ele, no Sacrifício da Cruz, com
generosidade e verdadeiro espírito de reparação;
c) O dever da caridade para com nós mesmos que precisamos descontar as
penas merecidas com os nossos pecados e remir nossas paixões;
d)O dever da caridade para com o nosso próximo, que afastamos de Deus
com os maus exemplos.
Vê-se daí quão
útil para o pecador aproveitar o tempo da Quaresma para multiplicar as boas
obras, e assim dispor-se para a conversão.
ENSINAMENTO
ASCÉTICO
Segundo os
Santos Padres, a Quaresma é um período de renovação espiritual, de vida cristã
mais intensa e de destruição do pecado, para uma ressurreição espiritual, que
marque na Páscoa o reinício de uma vida nova em cristo ressuscitado.
A Quaresma tem
por finalidade primordial incitar-nos à oração,
à instrução religiosa, ao sacrifício e à caridade fraterna. Recomenda-se por isso, particularmente a
meditação da Paixão de cristo.
O jejum e a
abstinência de carne se fazem para que nos lembremos de mortificar os nossos
sentidos, orientando-nos particularmente ao arrependimento sincero e emenda de
nossos pecados.
A caridade
fraterna – base do Cristianismo – inclui a esmola e todas as obras de
misericórdia espirituais e corporais.
MEDITAÇÕES
COMENTÁRIO DOGMÁTICO
a)
A criação do
mundo. As três divinas Pessoas, no seu infinito poder, sabedoria e bondade,
tiraram do nada o céu e a terra e tudo o que neles existe. Deus criou do nada o
universo celeste e terrestre, dando-lhes grandeza, beleza, ordem e perfeição.
Deus nosso Senhor criou o universo visível para sua própria perfeição
(finalidade próxima da criação), e para o homem (finalidade intermediária), a
fim de que se manifeste a perfeição, bondade, e a glória do Criador (finalidade
última).
b)
A criação do
homem e sua elevação ao estado sobrenatural, com as terríveis consequências
do pecado original. Os nossos progenitores foram criados diretamente por Deus
em estado de inocência e felicidade, com destino em dons sobrenaturais;
viram-se, porém, espoliados dessas prerrogativas, por causa do gravíssimo
pecado de desobediência que cometeram, comendo o fruto proibido, e por causa da
ambição indevida de se tornarem semelhantes a Deus;
c)
A depravação do
gênero humano, a tal ponto agravada no correr dos tempos, que Deus enviou o
dilúvio universal. Mais tarde, em castigo de seus pecados, os hebreus serviram
como escravos, em Babilônia, durante setenta anos.
COMENTÁRIO ASCÉTICO
Do que acima
se disse, conclui-se a necessidade absoluta de uma penitência recuperadora, que
deve ser o início da vida cristã (via purgativa, conversão). Tal penitência
significa arrependimento sincero dos
pecados, que faz confessá-los e aceitar voluntariamente a reparação imposta.
Consideremos a
gravidade do pecado, as obrigações contraídas com a justiça divina e a nossa
absoluta impotência de ressurgir, por nós mesmos de nosso mísero estado para o
estado de amizade com Deus. O nosso espírito de arrependimento deve ser
vivificado por uma absoluta confiança em Jesus Cristo nosso
Senhor, que vencendo o pecado, ilumina a humanidade com a vida da graça. Esta
confiança em Jesus manifesta-se na oração fervorosa e se robustece pelas boas
obras.
O
arrependimento e a confiança transformam a fadiga, o sofrimento e todas as
realidades tristes da vida humana em poderosos meios para alcançar a vitória
final, que é a glória eterna do Paraíso.
A
SALVAÇÃO E O MÉRITO
“Deus quer
salvos todos os homens” (1 Tim 2,4) e
por isso oferece a cada um o auxílio de sua graça, que se obtém mediante os
Sacramentos e a oração. Mas na economia divina, a salvação é prêmio da nossa
cooperação e das nossas boas obras ou méritos.
O mérito é o
direito à gratidão espiritual, que Deus, por pura liberalidade, prometeu ao
homem. Para que seja meritória a ação deve ser boa, livre e feita em estado de
graça, por amor de Deus e por um fim sobrenatural. Quando existem estas
condições, toda nossa ação, ainda que comum, simples e insignificante, adquirem
um valor eterno.
Mesmo se não
podemos ter certeza absoluta da nossa predestinação, a frequência aos
Sacramentos, a verdadeira devoção à Virgem Santíssima, a prática das nove
primeiras Sexta-feiras e a correspondência às boas inspirações, são sinais de
que dela nos dão uma certeza moral.
Jesus Cristo,
padecendo e sacrificando-se voluntariamente e somente por amor, sobre a Cruz,
cancelou o pecado (a causa principal da Paixão), reconciliou-nos com Deus,
dando-lhe plena satisfação e reabriu-nos o Paraíso.
Jesus tinha
uma constituição sensibilíssima e sofreu em sumo grau todo gênero de tormentos.
Sofreu na alma (tristeza, tédio, desolação abandono, e traição), na honra e na
fama (blasfêmias, desprezo e condenação) e em todos os membros do corpo
(coroação de espinhos, flagelação e crucifixão).
Ele morreu
como homem, porque como Deus não podia padecer nem morrer. Sofrendo e morrendo
na Cruz, Jesus deu a Deus uma satisfação real, voluntária, superabundante e
universal.
Como sabemos, a Quaresma é sempre antiga e nova ao mesmo tempo. Repete-se a cada ano litúrgico e traz-nos sempre novos frutos de conversão e graças de Deus nosso Senhor.
Esse ano, em especial, somos desafiados a manter a perseverança num momento histórico. Sua Santidade, o Papa Bento XVI, renunciou ao trono de Pedro (ver aqui). Será desafiador, para nós católicos, viver a Quaresma num clima maior de oração e penitência, de entrega total ao bondoso Deus, oferecendo humildemente nossos dias de preparação para a Páscoa do Senhor na intenção, além de nosso própria santificação, pela Santa Igreja, pelo Papa Bento XVI que sai, e pelo novo Papa que vai ser eleito. O tempo atual exige de nós muita força e perseverança, e a graça de Deus, como vemos agir desde o Antigo Testamento até os dias de hoje, não nos deixa a deriva, não deixa a Barca de Pedro. As portas do inferno NON PRÆVALEBUNT!
CHRISTUS VINCIT, CHRISTUS REGNAT, CHRISTUS IMPERAT!
Nenhum comentário:
Postar um comentário