sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O CAMINHO DO CONFESSIONÁRIO! - Para os pais educarem os filhos

O CAMINHO DO CONFESSIONÁRIO!
Como em toda a educação, aqui é também imenso o papel dos pais, tanto como diretamente como indiretamente. Na formação da consciência as crianças pequenas se guiam totalmente pelo que dizem e fazem os pais. Para elas constituem eles toda a autoridade do bem e do mal: vale o que dizem os pais. Vê-se então que estes devem ter muito boa consciência e muito cuidado em suas palavras e atos, a fim de não formar erradamente os filhos.
Até cinco ou seis anos, medem as crianças o bem ou mal pelo agrado ou desagrado causado aos pais. Importa, então, agir com muitodiscernimento, agradando-se do bem moral e de desagradando do mal moral, muito mais que de qualquer falta outra que cometas as crianças.
Evite-se dar demasiada importância a certos defeitos puramente naturais: é mais grave mentir que quebrar um prato; muito mais grave vingar-se do que rasgar a roupa no jogo. E os pais devem ser razoáveis no trato dessas faltas, porque pelas suas atitudes é que as crianças julgam da gravidade delas.
Prestem os pais atenção a certos atos, praticados com intenção deliberadamente má. É interessante notar que as crianças alegam, às vezes, a má intenção como desculpa. “Quebrei o carrinho dele porque ele me bateu”. O que eles alegam como excusante é, pelo contrário, agravante.
Se a criança é ainda muito pequena, não vamos falar propriamente em pecado, mas é imprescindível mostrar-lhe que fez o mal, e habituá-la a pedir perdão a Deus, relacionando logo o mal com a ofensa a Deus, que é também quem pode perdoar. Os pais perdoam em lugar de Deus...
A própria maneira de se portarem os pais quando a esse perdão influi na formação do filho para a Confissão, embora não o percebam. De fato, - se perdoam sem exigir arrependimento nem respeito de emenda, dão a entender que a falta é coisa de pouca monta, ou sem valia; e assim pensa a criança que poderá portar-se com a Confissão; - se tomam uma atitude por demais severa, levam a criança a dissimular para escapar aos rigores: e assim poderão mais tarde agir na Confissão, disfarçando pecados ou fugindo ao confessionário por temor: - se perdoam com demasiada facilidade, correm o risco de extirpar da consciência infantil o temor de Deus, o medo de pecar, o arrependimento, o desejo de emenda, facilitando a insensibilidade moral e a recaída nos pecados.
Se, porém, perdoam, exigindo que se arrependam, e prometam não reincidir, agem acertadamente, porque não tornam muito penosa a confissão da falta (e por extensão a Confissão) e exigem (como Deus exigirá na Confissão) arrependimento e propósito.
As crianças transferem com muita naturalidade o modo de agir dos pais com relação às suas faltas para a atuação do confessor. É bom, então, que saibam que Deus acolhe com misericórdia o pecador, mas exige que se arrependa e se emende. Muito contribui para a atitude das crianças em face da Confissão a que elas virem ser a dos próprios pais. Se estes se confessam a miúde e falam da Confissão com felicidade, claro que ensinam aos filhos o caminho do confessionário. Os outros, infelizmente, não!
SENSO DO PECADO - EDUQUE SEU FILHO(A)
É uma das conseqüências do senso de Deus. O homem perdeu o senso do pecado porque perdeu primeiro o senso de Deus. Se para nós Deus é (e será sempre) o Senhor, Senhor de tudo, Senhor absoluto, então a sua Lei é a suprema regra da vida, e importa obedecer-lhe acima de todas as coisas, sejam quais forem as conseqüências humanas.
E se Deus é para nós o Pai, que nos ama como a melhor das mães ama a seu filho, Pai previdente que faz por nós as maravilhas de sua onipotência e nos dá as mais estupendas provas de seu amor, é preciso amá-Lo de “todo o coração, de toda a alma, com todas as forças”. (Cf. Lc. 10,27).
Se dermos à criança o senso de Deus, damos-lhe, por isso mesmo, o senso do pecado. Ela sabe e sente que nada há mais importante do que obedecer a Deus, e nada lhe doerá mais do que ofender ao Pai de tanta bondade e tanto amor. É este o primeiro aspecto do pecado que devemos apresentar: - ele é uma ofensa a Deus, paga de ingratidão a quem nos ama com amor infinito, é uma recusa de amor de Deus, um “não!” ao Pai do Céu.
Dando à criança esta atitude em face do pecado, é mais fácil dar-lhe o sendo de reparação:
- Se desobedecer a uma ordem do Soberano Senhor, devo apresentar-Lhe desculpas;
- Se ofender a um Pai tão bom, devo dizer-Lhe que estou arrependido e que nunca mais farei essa ingratidão.
Só em segundo lugar apresentaremos os efeitos do pecado em nós. São graves, terríveis:
- Expulsa de nós o Espírito Santo;
- Priva-nos da condição de filhos de Deus;
- Despoja-nos de todos os méritos;
- Entrega-nos ao Demônio;
- Condena-nos ao inferno.
Nada se pode imaginar de pior ... para o homem. Mas o pecado é, antes de tudo, a ofensa a Deus, e só depois podemos considerar o mal que ele nos faz. Primeiro, Deus ofendido; depois, o homem arruinado. É o mesmo ato que produz os dois efeitos; mas consideraremos primeiro o que é mais grave. Este aspecto deve ser mais salientado do que até agora tem sido. Isto não significa que menosprezemos os efeitos do pecado para nós. Não; até porque nada há de mais funesto para o homem, sendo mesmo a única verdadeira desgraça (desgraça) que nos pode acontecer. Aliás, o senso do bem espiritual ajuda-nos a avaliar o mal do pecado. Quem sabe: - apreciar a beleza da graça santificante;
- prezar o inefável dom da habilitação de Deus em nós;
- estimar devidamente a felicidade de poder gozar da amizade divina.
Esse saberá também avaliar o que seja o pecado:
- rompimento com Deus;
- destruição da vida divina em nós;
- sujeição ao demônio.
Por isso um dos meios eficazes de infundir horror ao pecado é dar o amor ao estado de graça, a prática habitual da virtude, o gosto da consciência tranqüila. O hábito da vida consciente em graça dará o senso do pecado, com o hábito da limpeza da à criança e repugnância à sujeira.
Mas, (permita a insistência), apesar de tudo, é secundário. O primeiro valor é o que se refere diretamente a Deus: - o pecado é uma ofensa à Bondade Infinita.
CRIANÇAS E O SILÊNCIO
O "silêncio". Indico quase sempre o "silêncio" e dou-lhe uma importância que alguns catequistas reputarão exagerada. Mas não é.
Já por si exteriorizada e dispersiva, tem a criança atual um mundo trepidante a chamá-la para fora, distraí-la, prendê-la ao sensível. Habituá-la, pois, a um instante de silêncio, chamá-la a concentrar-se, a pensar em determinado assunto que lhe escapa aos sentidos, é ensinar-lhe a dominar o mundo exterior, a fixar o pensamento num objeto desejado, a vencer as próprias distrações, a conseguir aos poucos o domínio das faculdades inferiores pelas superiores. Aplicando-as às coisas religiosas, estamos orientando-a para a oração - que passará de mecânica repetição de palavras, às vezes sem a mínima atenção, para um encontro consciente do homem com Deus, uma verdadeira conversa, uma "elevação da alma a Deus", como quer a própria definição.
Este "silêncio" tem suma importância, inclusive para nós. Começássemos sempre com ele as nossas orações, e veríamos como escassearia a distração, que corrói como o cupim que deixa da madeira apenas a forma.
Excertos do livro: Preparação para a Primeira Comunhão – Mons. Álvaro Negromonte

Exame de consciência para a Confissão de Crianças

Salve Maria Imaculada! Viva a Cristo na Hóstia Sagrada!
Já que falamos um pouco sobre o Sacramento da Penitência, é bom tratarmos sobre exames de consciência. Então vai um pequeno para crianças, que se preparam para fazer a 1ª Confissão antes da 1ª Comunhão.


Exame de consciência para a Confissão das Crianças




O MEU COMPORTAMENTO COM DEUS
( ) Rezo todos os dias, devagar e com atenção, as orações da manhã e da noite?
( ) Lembro-me de Deus durante o dia?
( ) Não tenho o mau hábito de falar dEle com pouco respeito?
( ) Participo da Santa Missa todos os domingos e dias de guarda sem preguiça?
( ) Escuto com atenção a Palavra de Deus?
( ) Acompanho bem as orações?
( ) Chego cedo à Missa e assisto de boa vontade, não atrapalhando os outros?
( ) Tenho o desejo de conhecer melhor Nosso Senhor?
( ) Quero fazer sempre o que Ele diz e comportar-me como Ele quer?
( ) Na igreja, comporto-me com respeito?
( )Lembro-me de que a igreja é a casa de Deus, não corro, não converso durante a missa, não passo pelo altar sem cumprimentar Jesus no sacrário com uma genuflexão bem feita?
( ) Vou à igreja bem vestido, com uma roupa própria e descente?
( ) Amo Nossa Senhora e converso todas as noites com Ela?
( ) Rezo a Ave-Maria, pensando que Ela é a Mãe de Jesus e me ama como a um filho?
( ) Falo todas as manhãs com o Anjo da Guarda para que me acompanhe e me proteja durante todo o dia?
( ) Quando recebo uma boa notícia, agradeço ao Senhor todas as coisas boas que Ele me deu? Sei que não fui eu que fiz tudo e lembro que é um presente do meu Pai-Deus?




O MEU COMPORTAMENTO COM A FAMÍLIA E COM O PRÓXIMO


( ) Sou carinhoso com o meu pai e a minha mãe?
( ) Sou carinhoso com o meus irmãos?
( ) Sou carinhoso com o meus avós?
( ) Sei agradecer o carinho que os meus pais têm por mim?
( )Não respondo com má educação e nem os deixo tristes com o meu comportamento?
( ) Obedeço rapidamente aos meus pais, sem reclamar?
( ) Sei que aquilo que me dizem é para o meu bem?
( ) Falo sempre a verdade, mesmo que tenha que passar vergonha?
( ) Gosto de ajudar em casa?
( ) Trato com respeito os meus avós e as pessoas mais velhas?
( ) Não sou egoísta com as minhas coisas? Sei emprestá-las sempre e dividi-las com os meus irmãos e amigos?
( ) Na escola, comporto-me bem com todos?
( ) Assisto bem às aulas?
( ) Não converso enquanto o professor está falando?
( ) Não perco o tempo e nem atrapalho os meus colegas?
( ) Dedico ao estudo o tempo suficiente?
( ) Não brigo com os meus companheiros?
( ) Nas brincadeiras, não me importo em vencer ou perder, sou leal e respeito as regras do jogo?
( ) Sei perder sem ficar com raiva?
( ) Sei ser amigo dos meus companheiros?
( ) Ajudo-os nas necessidades?
( ) Não faço brincadeiras de mau-gosto com eles?
( ) Não faço fofocas?
( ) Sei perdoar os colegas quando me fazem um pequeno desaforo?
( ) Não tenho inveja das coisas que eles fazem?
( ) Sou sincero?
( ) Falo sempre a verdade, mesmo que me custe?
( ) Não invento coisas?
( ) Não minto?
( ) Não digo que fiz coisas certas, quando na verdade fiz tudo errado e mal feito?
( ) Falo sempre a verdade aos meus pais?




O MEU COMPORTAMENTO COMIGO MESMO


( ) Não peguei coisas que não são minhas sem pedir?
( ) Nunca roubei alguma coisa, nem mesmo de pouco valor?
( ) Não uso mal as minhas coisas, não desperdiço-as nem estrago-as?
( ) Deixo de pegar para mim algumas coisas de que gosto, para oferecê-las a Jesus e dá-las aos pobres?
( ) Faço logo as coisas que devo fazer?
( ) Não tenho má vontade e nem preguiça?
( ) Não escolho as coisas mais fáceis e nem deixo as mais difíceis para a última hora?
( ) Faço todos os dias os meus deveres da escola?
( ) Sigo sempre as orientações dos professores?
( ) Não deixo as coisas pela metade, faço tudo até o fim?
( ) Não sou desordenado?
( ) Não deixo as coisas que uso jogadas de qualquer jeito?
( ) Sei ter e seguir um horário?
( ) Sou pontual nos meus compromissos?
( ) Não falto à aula por preguiça?
( ) Não sou guloso e nem caprichoso demais?
( ) Não estou sempre reclamando?
( ) Sei contentar-me com o que me dão?
( ) Não deixei-me levar pela curiosidade ruim?
( ) Não olhei revistas e fotografias indecentes, nem programas de televisão que não prestam?
( ) Sei ter respeito por mim mesmo e pelo meu corpo?
( ) Evito gestos ou atos contrários à santa pureza?
( ) Cuido da higiene e da modéstia?
( ) Não uso uma linguagem grosseira?
( ) Não falo palavrões?
( ) Não ofendo os outros?
( ) Não faço fofocas?
( )Não sou mal-educado com os meus pais e professores?

LIÇÃO DO CATECISMO - 9

Salve Maria Imaculada! Viva a Cristo na Hóstia Sagrada!

Trataremos dos Sacramentos de Cura (Penitência e Unção dos Enfermos) e dos de Serviço eclesial (Matrimônio e Ordem). Boa leitura!


59.º LIÇÃO

O sacramento da Penitência

*O que é sacramento da penitência?
         O sacramento da penitência, ou a confissão, é o sacramento da misericórdia divina e da paz.

*Por que a penitência é chamada o sacramento da misericórdia divina e da paz?
         A penitência é chamada o sacramento da misericórdia e da paz pelas razões seguintes:
1.º) Porque, nesse sacramento, Deus perdoa com divina bondade nossos pecados.
2.º) É o sacramento da paz, porque essa paz é um divino efeito do nosso encontro com Deus, que é luz e amor.
Recordemos a parábola do Filho pródigo.

*Quando Jesus instituiu esse sacramento?
         Jesus instituiu esse sacramento no dia mais feliz da humanidade, i.é, no dia da Páscoa da Ressurreição, simbolizando assim que o sacramento do perdão seria também o da paz.
(Jo 20, 20): “A paz esteja convosco!”

*Com que palavras instituiu Jesus esse sacramento?
         Jesus instituiu esse sacramento quando disse aos apóstolos:
“Recebei o Espírito Santo! A quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos.” (Jo 20, 22 sg.).

Necessidade de receber o sacramento da penitência

*É necessário receber o sacramento as penitência?
         O sacramento as penitência é necessário para aqueles que cometeram pecado mortal e que têm possibilidades de confessar-se.

*E para os que cometeram pecado mortal e não têm possibilidade de confessar-se, não há outros meios de alcançar o perdão?
         Sim. O ato de amor perfeito a Deus, ou a contrição perfeita, com o desejo de confessar-se, nos alcança o perdão dos nossos pecados e nos abre as portas do céu.

*É recomendável fazer com frequência o ato de constrição perfeita?
         É utilíssimo fazer com frequência o ato de contrição perfeita. É uma das práticas mais necessárias para nos garantir a salvação eterna.
Uma nota pastoral importante:
As pessoas que assistem a doentes, que não têm possibilidade de confessar-se, devem fazer com eles fervorosos atos de amor e sinceros atos de contrição perfeita. Essa caridade salvará muitos irmãos.

*A Igreja nos prescreve a confissão?
         Sim. No 2.º Mandamento da Igreja está expressa a determinação de confessar-se pelo menos uma vez por ano e em perigo de morte.

*Quais devem ser os sentimentos dos cristãos, ao recordarem a misericórdia de Jesus que nos deu o sacramento da penitência?
         Todos nós devemos ter os mais profundos sentimentos de gratidão para com nosso Redentor, por nos ter dado esse sacramento que nos abre as portas do céu. Gratidão que é o cântico feliz de milhões de pecadores perdoados.

Liturgia da confissão, ou seja, do Sacramento da Penitência

*Quais são os atos necessários para fazermos uma boa confissão?
         São os seguintes:
1.º) Um prudente exame de consciência.
2.º) Um sincero arrependimento dos pecados cometidos.
3.º) Um sincero bom propósito de não pecar.
4.º) Uma humilde acusação dos pecados.
5.º) Cumprir a penitência marcada pelo confessor.
Após a acusação dos pecados, o sacerdote dá a absolvição ou o perdão dos pecados em nome de Deus.

Exame de consciência

*Como devemos fazer o exame de consciência?
         1.º) É bom pedir a graça de conhecermos com clareza nos nossos pecados.
         2.º) Refletir com seriedade sobre os pecados que tenhamos cometido depois da última confissão bem feita.

Contrição

*Em que consiste a contrição ou arrependimento?
         A contrição ou arrependimento dos pecados é o humilde e sincero pesar de ter ofendido a Deus, nosso Pai, Senhor e Benfeitor.
         Quando dizemos “sentir dor” dos pecados, não queremos indicar um sentimento sensível de dor, mas queremos indicar um ato de vontade, nascido da fé, que nos ensina que o pecador ofende a Deus.
         Deus concede, às vezes, a graça de sentirmos também uma dor e uma tristeza profunda dos pecados. É uma graça muito grande.
         São Pedro chorou amargamente o pecado de ter negado a Jesus.

*Que reflexões podemos fazer, para termos sincero arrependimento?
         Entre outras, são ótimas as reflexões seguintes:
1.º) pelo pecado mortal, perdemos o direito ao céu e nos tornamos merecedores do inferno;
2.º) os pecados foram causadores da paixão e morte de Cristo, que quis sofrer e morrer para nos alcançar a graça do perdão.

*Que consideração é muito útil para vencermos a timidez, o desânimo e até o receio de não sermos perdoados?
         Recordemos que a misericórdia de Deus é infinita, e que Deus não olha para a gravidade do pecado, mas para nosso arrependimento.
         É consolador recordar a palavra tão divina de Jesus: “Há no céu mais alegria por um só pecador que se converte...”

*Como podemos fazer um ato de contrição?
         Um ato de contrição breve, mas muito bom, é seguinte:
“Meu bom Jesus, eu pequei – eu me arrependo – não quero mais pecar – perdoai-me”.

Propósito

*O que é o bom propósito de emenda?
         O bom propósito, ou propósito de emenda, é a firme resolução de nossa vontade de não mais pecar, ou de esforçar-se seriamente para não mais pecar e – conforme o caso – é a sincera e decidida vontade de evitar a ocasião próxima do pecado.

*O que é a ocasião próxima do pecado?
         Ocasião próxima do pecado é uma pessoa, um livro, um teatro, uma companhia, que nos leva sempre, ou quase sempre, a cair no pecado.

*É importante ter sincera dor dos pecados e firme resolução de não pecar?
         Sim. A sincera dor e a firme resolução de não mais pecar – como explicamos acima – é condição necessária para uma boa confissão.
         Essa resolução séria e sincera de não tornar a pecar, não exclui o receio de cair novamente por causa de nossa miséria.
         Por isso, o grande conselho dos santos confessores: “Levanta-te, irmão, levanta-te sempre, até a morte te encontrar de pé.”

Acusação dos pecados

*Em que consiste a confissão ou acusação dos pecados?
A confissão, ou acusação dos pecados, consiste na humildade e simples manifestações dos próprios pecados ao sacerdote.

*Por que é necessário confessar os pecados?
É necessário confessar os pecados porque Jesus deu aos apóstolos o poder de perdoar, ou de não perdoar, e somente havendo a acusação dos pecados, o sacerdote pode proceder ao devido julgamento. Além disso, a Igreja instituída pelos apóstolos, sempre ensinou essa doutrina.
(At 19, 18): “Muitos dos fiéis vinham e acusavam o que tinham praticado”.
*Que pecados devemos confessar?
Devemos confessar todos os pecados mortais, de que nos acusa a consciência, e que ainda não tenhamos confessado.
Se alguém de propósito, oculta algum pecado mortal, torna a confissão inválida.

*É necessário confessar os pecados veniais?
A confissão dos pecados veniais não é necessária, mais e muito útil.
1.    Por que aumenta a graça santificante, que é o grande tesouro divino;
2.    Concede-nos a graça sacramental específica da confissão, que consiste em nos alcançar forças espirituais para vencer nossas más inclinações, fonte de tantos pecados.
3.    Por que contribui para nosso progresso espiritual, proporcionando-nos um conhecimento mais perfeito de nossos defeitos e sempre nos animando a corrigi-los, pelos bons propósitos que fazemos e pelos bons conselhos que recebemos.
*Como nos animar a fazer sempre uma boa confissão, vencendo falsos receios e vergonha?
1.    Devemos sempre recordar que somos pobres pecadores. De nossos pecados, devemos ter não medo ou vergonha, mas, sim, sincero arrependimento.
2.    Assim fizeram os grandes convertidos, como Santo Agostinho, cuja humilde autobiografia – “Confissões” – vem sendo lida, há tantos séculos.
3.    No céu a um número imenso de grandes santos que foram em vida grandes pecadores. Seus pecados perdoados formam um hino de amor e gratidão à infinita misericórdia de Deus.
*Quais são as grandes graças que nos alcança o sacramento da penitência?
Alcança-nos as graças seguintes:
1.    Perdoa nossos pecados mortais, restitui a graça santificante e, assim, nos faz novamente filhos de Deus e herdeiros do paraíso.
2.    Quando o penitente tiver somente pecados veniais, perdoa esses pecados e aumenta a graça santificante.
3.    Alem disso, confere a graça sacramental, que é uma graça especial para termos forças de nos emendar e de vencer nossas más inclinações.
*Que outras graças nos alcança o sacramento da confissão?
1.    Restitui a paz e realiza isso, às vezes, de forma sensível e extraordinária, como vemos em tantos pecadores convertidos.
2.    Ele nos reintegra no Corpo Místico de forma viva e atuante.
 Satisfação

*Em que consiste a satisfação, ou a assim chamada “penitência imposta” pelo confessor?
A satisfação, ou penitência imposta pelo confessor consiste em rezar algumas orações ou fazer alguma boa obra, segundo a determinação do confessor.

*Qual é o método dessa penitência marcada pelo confessor?
Essa penitência tem o fim de oferecer a Deus uma reparação mais perfeita por nossos pecados.
Alem dessa penitência, marcada pelo confessor, seria muito útil oferecer outras orações e boas obras, como esmolas, para a mais perfeita expiação dos nossos pecados.

*Qual é a obra de penitência mais importante e mais santificadora que podemos oferecer a Deus?
É, sem dúvida, sofrer com paciência os sofrimentos e dores desta vida e aceitar com resignação e conformidade as cruzes que Deus nos envia.
Recordemos que nossa conformidade com a vontade de Deus nos leva com segurança à santidade.
(Mt 4,17): Jesus começa a pregar e a dizer: “Fazei penitência, porque está próximo o reino de Deus”.
Há, além disso, outro meio para alcançarmos perdão dos pecados e dos castigos merecidos: é perdoar aos que nos ofendem e injuriam.
Jesus mesmo ensinou esse meio: “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nos perdoamos...”.


60.ª LIÇÃO

Questões atuais referentes ao sacramento da Penitência

*A prática da confissão comunitária será doutrina nova na Igreja?
         A prática da confissão comunitária legítima, i.é, feita em casos de verdadeira e urgente necessidade, é prática muito antiga e sempre esteve em uso. Por exemplo, das a absolvição coletiva a um corpo de exército, que segue para a batalha.
         Um comovente exemplo aconteceu no naufrágio do Titanic: dois sacerdotes, cercados de centenas de passageiros, animando-os e dando-lhes a absolvição...

*A comunidade pode atuar como ministro do sacramento da penitência?
         De forma alguma. Os ministros do sacramento da penitência são os sacerdotes.
         Em caso de necessidade, por exemplo, atendendo a um doente, deve-se orientar e animar o doente a que se faça um ato de contrição perfeita.
         Qualquer pessoa pode e deve fazer isso: é o apostolado da contrição perfeita.
         Será sempre um importante apostolado rezar pela conversão dos pecadores e, segundo as possibilidades, animá-los e instruí-los a que se confessem, ou rezem o ato de contrição.

*Que dizer dos Ritos Penitenciais, como preparação comunitária para a confissão individual?
         São utilíssimos.

*É também permitido o modo seguinte:
         Preparação comunitária – confissão individual e absolvição comunitária e uma penitência.

61.ª LIÇÃO

O sacramento da Unção dos Enfermos

*O que nos diz São Tiago sobre a Unção dos Enfermos?
(Tg 5, 14-15): “Está alguém enfermo entre vós? Mande chamar os presbíteros da Igreja e rezem sobre ele ungindo-o com óleo em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o enfermo e o Senhor o aliviará e os pecados, que tiver cometido, lhes serão perdoados”.

*O que é, portanto, o sacramento da Unção dos Enfermos?
         A unção dos enfermos é o sacramento instituído por Nosso Senhor para o bem espiritual e temporal dos enfermos.
 Devemos ter profunda gratidão a Jesus que, em sua bondade, quer estar conosco na doença, nos sofrimentos e na hora da morte.

*Quais são as grandes graças que nos confere a unção sacramental dos enfermos?
         Esse sacramento:
1.º) aumenta em nós a graça santificante;
2.º) nos fortalece e anima na doença e nas dores;
3.º) nos perdoa os pecados e as penas devidas aos pecados;
4.º) às vezes realiza a cura extraordinária do paciente, como mostra a experiência;
5.º) sempre anima e conforta o doente na hora da agonia.

*Quando se pode receber a unção dos enfermos?
1.º) Quando a pessoa estiver seriamente doente;
2.º) Quando for muito idosa;
3.º) Quando tiver sofrido um acidente sério. Nesses casos, ou em casos semelhantes, pode-se e deve-se receber esse sacramento.
4.º) Não se deve esperar que o doente esteja em perigo imediato de morte.

*Que orientações e instruções práticas devem ser dadas, com insistência, aos fiéis, sobre esse importante sacramento?
1.º) Receber a unção dos enfermos é receber o sacramento especial que Cristo em sua bondade e sabedoria instituiu para o bem temporal e espiritual dos enfermos.

2.º) Receber o sacerdote não é para o doente receber um mensageiro da morte, mas é receber o representante de Cristo Salvador.

3.º) Chamar o sacerdote para atender a um doente é prestar-lhe uma imensa caridade.

*Como devemos dispor nossos irmãos doentes para receber a santa unção?
1.º) Devemos anima-los a receber esse sacramento com fé e confiança em Jesus que o vem visitar na pessoa do sacerdote.
2.º) Animá-lo à conformidade com a vontade de Deus. Essa conformidade à vontade de Deus é um ato de amor que perdoa os pecados e o salvará.

*Quais são as palavras sagradas da administração desse sacramento?
         O sacerdote unge o enfermo na fronte e nas mãos e diz:
“Por esta santa unção e pela sua piíssima misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo, para que liberto dos teus pecados, ele te salve e na sua bondade, alivie os teus sofrimentos!” Amém.
         Verdadeiramente sublimes, essas palavras sacramentais são, ao mesmo tempo, confortadoras.


62.ª LIÇÃO

O sacramento da Ordem

*O que é o sacramento da ordem, ou a ordenação sacerdotal?
         A ordem, ou a ordenação sacerdotal, é o sacramento que confere o poder divino de exercer os ministérios sagrados e que imprime caráter sagrado de ministro de Deus.

*Quais são os ministérios sagrados conferidos aos sacerdotes pela ordenação sacerdotal?
         Os sacerdotes legitimamente ordenados recebem os seguintes poderes sagrados:
1.     O divino poder de celebrar o santo sacrifício da missa;
2.     O poder divino de perdoar os pecados;
3.     O poder divino de administrar os outros sacramentos;
4.     Além disso, o sacerdote recebe o direito e a sagrada incumbência de pregar oficialmente a palavra divina ao povo de Deus e de governar como pastor das almas.

*De onde provêm esses poderes divinos de exercer esses ministérios sagrados?
         Esses poderes divinos, como atesta a Sagrada Escritura, foram conferidos por Jesus Cristo aos apóstolos, para que os transmitissem a seus sucessores, i.é, aos bispos e aos sacerdotes.
Quanto à missa: “Fazei isto em memória de Mim” (Lc 22, 19).
Quanto ao poder de perdoar os pecados: (Jo 20, 22-23).
(Jo 20, 21): “Como o Pai me enviou assim também eu vos envio”.
Poder de pregar e batizar (Mt 28, 19-20).

Um capítulo especial para as famílias e fiéis
Breve apêndice sobre a Ordem e a Vocação Sacerdotal

*Em que consiste a vocação sacerdotal?
         A vocação sacerdotal ou a vocação para o sacerdócio consiste em um misterioso chamamento divino para cooperar com o Cristo na obra divina da redenção.

*Como se manifesta essa vocação?
         Manifesta-se:
1.     Em uma vontade firme de seguir o Cristo Redentor;
2.     Em aspirar ao sacerdócio por um sagrado idealismo;
3.     Em orientar-se sempre por uma nobre e reta intenção.

*Em que consiste essa nobre e reta intenção?
         Essa nobre e reta intenção, esse sagrado idealismo, que por parte do vocacionado é decisivo, consiste em entrar para o estado eclesiástico:
1.     para a glória de Deus;
2.     e com o mais sincero intento primordial de colaborar com o Cristo na obra divina da salvação dos nossos irmãos.

*E a Igreja e os sacerdotes não se interessam pelo bem temporal e social dos homens?
        Sim, e muitíssimo. Como? Pregando, vivendo e fazendo viver o Evangelho. Pois a única e verdadeiramente eficiente forma de melhorar a situação temporal e social dos nossos irmãos reside no Evangelho, nas normas dadas por Cristo.

*Quais são essas divinas normas?
         São:
1.     O exemplo de Cristo;
2.     Suas palavras e leis que se compendiam nas oito bem-aventuranças e se resumem nas palavras que serão as últimas palavras da história da humanidade: “Tudo o que tiverdes feito a meus irmãos, a Mim o fizestes”. Se essas verdades não melhorarem o mundo, todos os outros recursos em si úteis e bem intencionados, não conseguirão nem melhorar, nem vencer os ódios, as ambições, nem os egoísmos de riquezas e de mando que tanto convulsionam e infelicitam a pobre humanidade.

*O que devemos dizer sobre as vocações de Irmãos e Freiras?
         1.º) A  vocação ao estado religioso de Irmãos e Freiras é uma vocação sobrenatural e extraordinária que Deus oferece às pessoas para a própria santificação e para um apostolado santificador junto aos irmãos.
         2.º) Essa vocação sobrenatural e extraordinária exige grandes sacrifícios e renúncias e, por isso, deve ser cultivada e vivida com meios sobrenaturais, especialmente com muita oração e amor sincero ao Cristo Crucificado e à divina Eucaristia.

*Quais são os deveres dos fiéis para com os vocacionados, aqueles que se sentem chamados ao sacerdócio e à vida religiosa?
         1. Os pais devem dar aos filhos liberdade para seguir a vocação sacerdotal e religiosa.
         2. Os fiéis devem rezar, com preces fervorosas, para que Deus nos mande santos sacerdotes e religiosos.
         3. Os pais, educadores e formadores, saibam que a missa bem compreendida e bem vivida é a mais divina e mais animadora motivação da vocação sacerdotal e religiosas; é a mais necessária e decisiva força para os jovens serem fiéis à sua vocação de seguirem o Cristo até o Calvário redentor.


63.ª LIÇÃO

O sacramento do Matrimônio

* O que é o sacramento do matrimônio?
         O matrimônio é um sacramento que santifica com graças especiais o amor e a união do homem e da mulher, para serem dignos e felizes esposos e pais.

*Quem instituiu o sacramento do matrimônio?
         Deus mesmo instituiu o matrimônio no paraíso e Jesus, o redentor, elevou o matrimônio à dignidade sagrada de sacramento.
(Ef 5, 32): “Este sacramento é grande – e eu o digo – em Cristo e na Igreja”.

*Quais são as graças necessárias que confere o sacramento do matrimônio?
         O sacramento do matrimônio confere as graças seguintes:

1. aumenta a graça santificante;
2. confere aos esposos graças sacramentais especiais para cumprirem bem os deveres sagrados (às vezes tão pesados!) de seu estado de esposos, de pais e de educadores;
3. eleva e conforta espiritualmente os esposos, recordando-lhes que como pais são cooperadores de Deus criador e como educadores são corredentores de seus filhos, educando-os na lei de Cristo e da Igreja.

*Quais são os deveres sagrados – às vezes tão pesados – dos esposos?
         Os esposos devem:
1. guardar perfeita, inviolável e sagrada fidelidade conjugal, como prometeram ao pé do altar;
2. amar-se com amor dedicado e sincero “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença”, todos os dias da vida;
3. empenhar-se com todo desvelo para dar ou proporcionar aos filhos uma sólida e profunda formação cristã.

*Como podem os pais realizar esse dever sagrado – e mais importante de todos – da educação e formação dos filhos?
         As dificuldades atuais são muito grandes e complexas...
         Por isso, torna-se necessário firmar a formação religiosa com o exemplo de uma sincera vivência religiosa, pela oração em família e pela fidelidade às práticas religiosas.
Questões atuais referentes ao Matrimônio

*O que dizer do divórcio?
         O matrimônio cristão, que é um sacramento, é indissolúvel. Só pode ser dissolvido pela morte de um dos conjugues.
(Lc 16, 18): “Todo aquele que repudiar sua mulher e se casar com outra, comete um adultério”.

*O que dizer da assim chamada legalização do divórcio?
         Como católicos, devemos dizer: “Nenhuma autoridade humana, civil, pode anular um casamento cristão porque é um sacramento divino”.
(Mt 19, 6): “O homem (autoridade humana!) não separe o que Deus uniu”. – diz o Cristo, divino e supremo legislador.

* O que dizer do desquite?
         Se, por razões muito graves, se realizar um desquite como único remédio para uma situação dolorosa, os esposos desquitados se lembrem que continuam casados e que, portanto, não podem realizar novo casamento válido.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Ave Maria explicada por Santo Tomás de Aquino

A SAUDAÇÃO ANGÉLICA
PRÓLOGO
1. — A saudação angélica é dividida em três partes: A primeira, composta pelo Anjo: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo, bendita és tu entre as mulheres. (Lc 1, 28).
A segunda é obra de Isabel, mãe de João Batista, que disse: Bendito é o fruto do teu ventre.
A terceira parte, a Igreja acrescentou: Maria
O Anjo não disse: Ave Maria e sim, Ave, Cheia de graça. Mas este nome de Maria, efetivamente, se harmoniza com as palavras do Anjo, como veremos mais adiante.

AVE
2. — Na antiguidade, a aparição dos Anjos aos homens era um acontecimento de grande importância e os homens sentiam-se extremamente honrados em poder testemunhar sua veneração aos Anjos.
A Sagrada Escritura louva Abraão por ter dado hospitalidade aos Anjos e por tê-los reverenciado.
Mas um Anjo se inclinar diante de uma criatura humana, nunca se tinha ouvido dizer antes que o Anjo tivesse saudado à Santíssima Virgem, reverenciando-a e dizendo: Ave.
3. — Sé na antiguidade o homem reverenciava o Anjo e o Anjo não reverenciava o homem, é porque o Anjo é maior que o homem e o é por três diferentes razões:
Primeiramente, o Anjo é superior ao homem por sua natureza espiritual.
Está escrito: Dos seres espirituais Deus fez seus Anjos. (Sl 103).
4. — O homem tem uma natureza corrutível e por isso Abraão dizia a Deus: (Gn 18, 27) Falarei a meu Senhor, eu que sou cinza e pó.
Não convém que a criatura espiritual e incorruptível renda homenagem à criatura corruptível.
Em segundo lugar, o Anjo ultrapassa o homem por sua familiaridade com Deus.
Com efeito, o Anjo pertence à família de Deus, mantendo-se a seus pés. Milhares de milhares de Anjos o serviam, e dez milhares de centenas de milhares mantinham-se em sua presença, está escrito em Daniel (7, 10).
Mas o homem é quase estranho a Deus, como um exilado longe de sua face pelo pecado, como diz o Salmista: (54, )Fugindo, afastei-me de Deus.
Convém, pois, ao homem honrar o Anjo por causa de sua proximidade com a majestade divina e de sua intimidade com ela.
Em terceiro lugar, o Anjo foi elevado acima do homem, pela plenitude do esplendor da graça divina que possui. Os Anjos participam da própria luz divina em mais perfeita plenitude. Pode-se enumerar os soldados de Deus, diz Jó (25, 3) e haverá algum sobre quem não se levante a sua luz? Por isso os Anjos aparecem sempre luminosos. Mas os homens participam também desta luz, porém com parcimônia e como num claro-escuro.
Por conseguinte, não convinha ao Anjo inclinar-se diante do homem, até, o dia em que apareceu urna criatura humana que sobrepujava os Anjos por sua plenitude de graças (cf n° 5 a 10), por sua familiaridade com Deus (cf. n° 10) e por sua dignidade.
Esta criatura humana foi a bem-aventurada Virgem Maria. Para reconhecer esta superioridade, o Anjo lhe testemunhou sua veneração por esta palavra: Ave.

CHEIA DE GRAÇA

5. — Primeiramente, a bem-aventurada Virgem ultrapassou todos os Anjos por sua plenitude de graça, e para manifestar esta preeminência o Arcanjo Gabriel inclinou-se diante dela, dizendo: cheia de graça; o que quer dizer: a vós venero, porque me ultrapassais por vossa plenitude de graça.
6. — Diz-se também da Bem-aventurada Virgem que é cheia de graça, em três perspectivas:
Primeiro, sua alma possui toda a plenitude de graça. Deus dá a graça para fazer o bem e para evitar o mal. E sob esse duplo aspecto a Bem-aventurada Virgem possuía a graça perfeitissimamente, porque foi ela quem melhor evitou o pecado, depois de Cristo.
O pecado ou é original ou atual; mortal ou venial.
A Virgem foi preservada do pecado original, desde o primeiro instante de sua concepção e permaneceu sempre isenta de pecado mortal ou venial.
Também está escrito, no Cântico dos Cânticos: (4, 7) Tu és formosa, amiga minha, e em ti não há mácula.
«Com exceção da Santa Virgem, diz Santo Agostinho, em seu livro sobre a natureza e a graça; todos os santos e santas, em sua vida terrena, diante da pergunta: «estais sem pecados?» teriam gritado a uma só voz: «Se disséssemos: estamos sem pecado (cf. 1, Jo 1, 6), estaríamos enganando-nos a nós mesmos e a verdade não estaria conosco».
«A Virgem santa é a única exceção. Para honrar o Senhor, quando se trata a respeito do pecado, não se faça nunca referência à Virgem Santa. Sabemos que a ela foi dada uma abundância de graças maior, para triunfar completamente do pecado. Ela mereceu conceber Aquele que não foi manchado por nenhuma falta».
Mas o Cristo ultrapassou a Bem-aventurada Virgem. Sem dúvida, um e outro foram concebidos e nasceram sem pecado original. Mas Maria, contrariamente a seu Filho, lhe é submissa de direito. E se ela foi, de fato, totalmente preservada, foi por uma graça e um privilégio singular de Deus Todo Poderoso que é devido aos méritos de seu Filho, Jesus Cristo, Salvador do gênero humano. (N.T.).
7. — A Virgem realizou também as obras de todas as virtudes. Os outros santos se destacam por algumas virtudes, dentre tantas. Este foi humilde, aquele foi casto, aquele outro, misericordioso, por isto são apresentados como modelo para esta ou aquela determinada virtude; como, por exemplo, se apresenta São Nicolau, como modelo de misericórdia.
Mas a Bem-aventurada Virgem é o modelo e o exemplo de todas as virtudes. Nela achareis o modelo da humildade. Escutai suas palavras: (Lc 1, 38) Eis a escrava do Senhor. E mais (Lc 1, 48): O Senhor olhou a humildade de sua serva. Ela é também o modelo da castidade: ela mesma confessa que não conheceu homem (cf. Lc 1, 43). Como é fácil constatar, Maria é o modelo de todas as virtudes.
A Bem-aventurada Virgem é pois cheia de graça, tanto porque faz o bem, como porque evita o mal.
8. — Em segundo lugar, a plenitude de graça da Virgem Santa se manifesta no reflexo da graça de sua alma, sobre sua carne e todo o seu corpo.
Já é uma grande felicidade que os santos gozem de graça suficiente, para a santificação de suas almas. Mas a alma da Bem-aventurada Virgem Maria possui uma tal plenitude de graça, que esta graça de sua alma reflete sobre sua carne, que, por sua vez, concebe o Filho de Deus.
Porque o amor do Espírito Santo, nos diz Hugo de São Vitor, arde no coração da Virgem com um ardor singular, Ele opera em sua carne maravilhas tão grandes, que dela nasceu um Homem Deus, como avisa o Anjo à Virgem santa: (Lc 1, 35) Um Filho santo nascerá de ti e será chamado Filho de Deus.
9. — Em terceiro lugar, a Bem-aventurada Virgem é cheia de graça, a ponto de espalhar sua plenitude de graça sobre todos os homens.
Que cada santo possua graça suficiente para a salvação de muitos homens é coisa considerável. Mas se um santo fosse dotado de uma graça capaz de salvar toda a humanidade, ele gozaria de uma abundância de graça insuperável. Ora, essa plenitude de graça existe no Cristo e na Bem-aventurada Virgem.
Em todos os perigos, podemos obter o auxílio desta gloriosa Virgem. Canta o esposo, no Cântico dos Cânticos: (4, 4) Teu pescoço é como a torre de Davi, edificada com seus baluartes. Dela estão pendentes mil escudos, quer dizer, mil remédios contra os perigos.
Também em todas as ações virtuosas podemos beneficiar-nos de sua ajuda. Em mim há toda a esperança da vida e da virtude (Ecl 24, 25).

MARIA
10. — A Virgem, cheia de graça, ultrapassou os Anjos, por sua plenitude de graça. E por isto é chamada Maria, que quer dizer, «iluminada interiormente», donde se aplica a Maria o que disse Isaias: (58, 11) O Senhor encherá tua alma de esplendores. Também quer dizer: «iluminadora dos outros», em todo o universo; por isso, Maria é comparada, com razão, ao sol e à lua.

O SENHOR É CONVOSCO
11. — Em segundo lugar, a Virgem ultrapassa os Anjos em sua intimidade com o Senhor. O arcanjo Gabriel reconhece esta superioridade, quando lhe dirige estas palavras: O Senhor é convosco, isto é, venero-vos e confesso que estais mais próxima de Deus do que eu mesmo estou. O Senhor está, efetivamente, convosco.
O Senhor Pai está com Maria, pois Ele não se separa de maneira nenhuma de seu Filho e Maria possui este Filho, como nenhuma outra criatura, até mesmo angélica. Deus mandou dizer a Maria, pelo Arcanjo Gabriel (Lc 1, 35) Uma criança santa nascerá de ti e será chamada Filho de Deus.
O Senhor está com Maria, pois repousa em seu seio. Melhor do que a qualquer outra criatura se aplicam a Maria estas palavras de Isaias: (12, 6) Exulta e louva, casa de Sião, porque o Grande, o Santo de Israel está no meio de ti.
O Senhor não habita da mesma maneira com a Bem-aventurada Virgem e com os Anjos. Deus está com Maria, como seu Filho; com os Anjos, Deus habita como Senhor.
O Espírito Santo está em Maria, como em seu templo, onde opera. O arcanjo lhe anunciou: (Lc 1, 35) O Espírito Santo virá sobre ti. Assim, pois, Maria concebeu por efeito do Espírito Santo e nós a chamamos «Templo do Senhor», «Santuário do Espírito Santo». (cf. liturgia das festas de Nossa Senhora).
Portanto, a Bem-aventurada Virgem goza de uma intimidade com Deus maior do que a criatura angélica.
Com ela está o Senhor Pai, o Senhor Filho, o Senhor Espírito Santo, a Santíssima Trindade inteira. Por isso canta a Igreja: «Sois digno trono de toda a Trindade».
É esta então a palavra mais nobre, a mais expressiva, como louvor, que podemos dirigir à Virgem.
MARIA
12. — Portanto o Anjo reverenciou a Bem-aventurada Virgem, como mãe do Soberano Senhor e, assim, ela mesma como Soberana. O nome de Maria, em siríaco significa soberana, o que lhe convém perfeitamente.
13. — Em terceiro lugar, a Virgem ultrapassou aos Anjos em pureza.
Não só possuía em si mesma a pureza, como procurava a pureza para os outros.
Ela foi puríssima de toda culpa, pois foi preservada do pecado original e não cometeu nenhum pecado mortal ou venial, como também foi livre de toda pena.

BENDITA SOIS VÓS ENTRE AS MULHERES
14. — Três maldições foram proferidas por Deus contra os homens, por causa do pecado original.
A primeira foi contra a mulher, que traria seu filho no sofrimento e daria à luz com dores.
Mas a Bem-aventurada Virgem não está submetida a estas penas. Ela concebeu o Salvador sem corrupção, trouxe-o alegremente em seu seio e o teve na alegria. A Ela se aplica a palavra de Isaias: (35, 2) A terra germinará, exultará, cantará louvores.
15. — A segunda maldição foi pronunciada contra o homem (Gn 3, 9): Comerás o teu pão com o suor de teu rosto.
A Bem-aventurada Virgem foi isenta desta pena. Como diz o Apóstolo (1 Cor 7, 32-34): Fiquem livres de cuidados as virgens e se ocupem só com o Senhor.
A terceira maldição foi comum ao homem e à mulher. Em razão dela devem ambos tornar ao pó.
A Bem-aventurada Virgem disto também foi preservada, pois foi, com o corpo, assunta aos céus. Cremos que, depois de morta, foi ressuscitada e elevada ao céu. Também se lhe aplicam muito apropriadamente as palavras do Salmo 131, 8: Levanta-te, Senhor, entra no teu repouso; tu e a arca da tua santificação.
MARIAA Virgem foi pois isenta de toda maldição e bendita entre as mulheres. Ela é a única que suprime a maldição, traz a bênção e abre as portas do paraíso.
Também lhe convém, assim, o nome de Maria, que quer dizer, «Estrela do mar», Assim como os navegadores são conduzidos pela estrela do mar ao porto, assim, por Maria, são os cristãos conduzidos à Glória.

BENDITO É O FRUTO DE VOSSO VENTRE
18. — O pecador procura nas criaturas aquilo que não pode achar, mas o justo o obtém. A riqueza dos pecadores está reservada para os justos, dizem os Provérbios (13, 22). Assim Eva procurou o fruto, sem achar nele a satisfação de seus desejos. A Bem-aventurada Virgem, ao contrário, achou em seu fruto tudo o que Eva desejou.
19. — Eva, com efeito, desejou de seu fruto três coisas:
Primeiro, a deificação de Adão e dela mesma e o conhecimento do bem e do mal, como lhe prometera falsamente o diabo: Sereis como deuses (Gn 3, 5), disse-lhes o mentiroso. O diabo mentiu, porque ele é mentiroso e o pai da mentira (cf. Jo 8, 44). E por ter comido do fruto, Eva, em vez de se tornar semelhante a Deus, tornou-se dessemelhante. Por seu pecado, afastou-se de Deus, sua salvação, e
foi expulsa do paraíso.
A Bem-aventurada Virgem, ao contrário, achou sua deificação no fruto de suas entranhas. Por Cristo nos unimos a Deus e nos tornamos semelhantes a Ele. Diz-nos São João: (1 Jo 3, 2) Quando Deus se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos como Ele é.
20. — Em segundo lugar, Eva desejava o deleite (cf. Gn 3, 6), mas não o encontrou no fruto e imediatamente conheceu que estava nua e a dor entrou em sua vida.
No fruto da Virgem, ao contrário, encontramos a suavidade e a salvação. Quem come minha carne tem a vida eterna (Jo 6, 55).
21. — Enfim, o fruto de Eva era sedutor no aspecto, mas quão mais belo é o fruto da Virgem que os próprios Anjos desejam contemplar (cf. 1 Pe 1, 12). É o mais belo dos filhos dos homens (Sl 44, 3), porque é o esplendor da glória de seu Pai (Heb 1, 3) como diz S. Paulo.
Portanto, Eva não pôde achar em seu fruto o que também nenhum pecador achará em seu pecado.
Acharemos, no entanto, tudo o que desejamos no fruto da Virgem. Busquemo-lo.
22. — O fruto da Virgem Maria é bendito por Deus, que de tal forma encheu-o de graças que sua simples vinda já nos faz render homenagem a Deus. Bendito seja Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo, declara São Paulo (Ef 1, 3).
O fruto da Virgem é bendito pelos Anjos. O Apocalipse (7, 11) nos mostra os Anjos caindo com a face por terra e adorando o Cristo com seus cantos: O louvor, a glória, a sabedoria, a ação de graças, a honra, o poder e a força ao nosso Deus pelos séculos dos séculos. Amém
O fruto de Maria é também bendito pelos homens: Toda a língua confesse que o Senhor Jesus Cristo está na glória de Deus Pai, nos diz o Apóstolo (Fp 2, 11). E o Salmista (Sl 117, 26) o saúda assim: Bendito o que vem em nome do Senhor.
Assim, pois, a Virgem é bendita, porém, bem mais ainda, é o seu fruto.
De Santo Tomás de Aquino, Doutor Angélico.
Fonte: Pai Nosso e Ave Maria – Sermões de Santo Tomás de Aquino. Editora Permanência, Rio de Janeiro, 2003.