sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Fé, Verdade e Desobediência.

 Por Jonatan Rocha do Nascimento

Eis o século XXI. Um século mágico. Século de mudanças, rapidez, multidisciplinaridade, diversificado, desenvolvido, globalizado, dinâmico e aberto a todos os diálogos. Eis o século em que a humanidade toda se congrega em perfeita harmonia, ao som de “Imagine” de John Lennon.

Hoje em dia há uma corrida ensandecida pela liberdade, pela felicidade terrena, pela total realização do ser, pela saúde constante e perfeita. Enfim, pela satisfação e libertação de tudo aquilo que nos lembra de nossa frágil e limitada natureza, que sempre foi desafio para o ser humano.

Os pais ensinam aos filhos como serem profissionais de sucesso, como ascenderem socialmente, mas esquecem o fundamental, como alcançar as virtudes que tornam a humanidade verdadeiramente humana e que, milenarmente, a Santa Igreja tem incansavelmente ensinado aos fiéis.

Ocorre que, a sociedade tem lutado, a todo e qualquer custo, se desvencilhar das “garras da opressão”, que acreditam se encontrar, o que faz crescer, como uma praga, uma população adoentada, mais frágil que casca de ovo, que se ofende com qualquer coisa.

Daí surgem, consequentemente, as inúmeras formas de proteção desses que não conseguem mais viver por si só ou ainda, que não permitem que qualquer verdade lhes atinja. Isto porque, como todos estão em perfeita consonância – ao menos este é o pensamento que se espalha-, todos devem compartilhar das mesmas opiniões, não havendo nenhuma verdade superior, acima da que cada um estabeleceu para si. O que se quer é o conforto. Um conforto que odeia qualquer forma de norma, regramento, aconselhamento ou qualquer senso de retidão.

Neste sentido, a Igreja tem sido uma grande seta, que aponta para a caminho correto, num mundo em que sempre há inúmeras vias incertas, como “lanças envenenadas” a apontar a danação e a miséria humana, contra as quais lutamos, por amor à Verdade.

As pessoas estão desnorteadas, e isso não se quer admitir! Tudo é passageiro e tudo agora é fugaz. Nada é certo, tudo é relativo, em tudo há um “depende” e em nada se pode sustentar. Esta é a dura realidade que, infelizmente, tem mostrado fiéis, adeptos a este mesmíssimo equívoco.

Sim! Até mesmo os que aderiram a fé estão perdidos, como ovelhas desobedientes. Não sem pastor, porque ele está lá. Segurando firmemente seu cajado, embora muitos queiram surrupiá-lo.

Pois bem. Fala-se muito em crise da fé, ante os avanços da sociedade, etc. Não sei realmente se a fé está realmente em crise. Antes, penso que há uma crise de obediência.

Obediência é a palavra-chave para muitas coisas e creio ser a gênese de muitos problemas atuais, pois quem obedece, muitas vezes, não encontra o conforto desejado e, como vivemos o tempo da comodidade e da irmandade perfeita, cada um faz o que quer. Cada um é dono do seu nariz; cada um paga suas próprias contas; e não deve satisfações ou obediência a quem quer que seja.

Obedecer é uma palavra que está no léxico, mas poucos querem concretizá-la no dia a dia. Fala-se de liberdade, que leva a uma realidade destrutiva, e que passou a ser um corolário da sobrevivência da humanidade. A liberdade e a felicidade, acima de todo e qualquer valor, são as únicas leis ora válidas. As verdades morais, que sustentaram e acompanharam as sociedades, portanto, são relativas e facultativas.

Falarei sobre estas duas faces: dentro e fora da Igreja. Porque, como disse, esta realidade está infiltrada há muito em nosso seio. O Santo Padre São Pio X, em sua encíclica Pascendi Dominicis Gregis, já alertava sobre as questões que nos afligiriam hoje:

E o que exige que sem demora falemos, é antes de tudo que os fautores do erro já não devem ser procurados entre inimigos declarados; mas, o que é muito para sentir e recear, se ocultam no próprio seio da Igreja, tornando-se destarte tanto mais nocivos quanto menos percebidos.

Ora, desde aqueles tempos, São Pio X espantava-se com a invasão dos disseminadores do erro no seio da Santa Mãe Igreja, quadro que, até hoje, é o mesmo ou ainda pior. Sobre isto trataremos um pouco mais adiante.

Pois bem. Mas o que poderia se esperar de uma sociedade escrupulosa ou “politicamente correta”? Ninguém fala de nada, ninguém se manifesta, ninguém se opõe às imundícies que violam a moral, a ética e a religião e quem o faz é taxado de louco, radical, etc. Enquanto isso, os deturpadores da verdade, hasteando a bandeira da liberdade revolucionária, são considerados bons moços, paladinos da humanidade. Vejamos alguns casos.


Primeiro, falemos dos movimentos homossexuais que atacam insistentemente a Igreja, chamando-a de retrógrada e perseguidora, bem como atentando contra a figura do Santo Padre, apelidado de nazista e genocida em potencial. Tudo isto, em prol do respeito à diversidade do ser, contra a realidade sexista que está posta na sociedade. Dizem: “Não se pode admitir este pensamento! Em pleno século XXI? Não!”. Coitados! Eles só querem respeito! Entendi. Compreendi o motivo pelo qual a imagem de santos foi colocada em poses sensuais em marchas gay. Por que ninguém me avisou que era isso? Agora que entendi porquê saíram fantasiados de papa e bispos, com cálices na mão e preservativos que lembravam o Corpo de Cristo.

E os abortistas? Por quê não falar um pouco deles ou delas? Ora, defendem uma causa tão nobre! Defendem a dignidade da vida humana. Querem que a Igreja admita o que é óbvio: Precisamos legalizar o aborto. Matar crianças quando elas serão um incômodo para os pais ou para a sociedade. De fato, um pensamento altruísta, digno de um Prêmio Nobel. Lutam pela liberdade da mulher que sofre pelas amarras de uma realidade sexista posta na sociedade (já vi esse filme!). Dizem: “Não se pode admitir este pensamento! Em pleno século XXI? Não!”. “É uma questão de saúde pública”, como disse a “avó do aborto”, senhora Ministra Eleonora Menicucci.

Mais internamente, temos os revolucionários soldados da Teologia da Libertação que, com muito axé e utopia, buscam a liberdade do povo, por meio do Cristo Revolucionário, o Cristo Libertador que, diga-se de passagem, sempre buscou a igualdade e o respeito a todos. Acreditava que todas as formas de expressão e de culto a Deus levam ao Céu, principalmente, porque devemos construir, aqui na Terra, o reino. O Reino dos Excluídos, dos sofridos, dos marginalizados, daqueles que foram massacrados pelas economias capitalistas e pelos governos tiranos. Lutam pela ecologia, pelas causas indígenas, pela pobrezas, pela igualdade, pela democracia na hierarquia da Igreja, pelo direito de “ter voz, ter vez, lugar”. Dizem: ““Não se pode admitir este pensamento! Em pleno século XXI? Não!”. Querem aproximar o povo das realidades cristãs, sem ostentação, sem riqueza, sem batina. Afirmam que preferem errar por caridade do que por excesso de legalismo, aderindo ao espírito do Concílio Vaticano II.

Ainda temos os modernistas! Ah, os modernistas ou modernosos. Enfim, esses que querem tirar este ar medieval que a Igreja possuía, mas que o Concílio Vaticano II entendeu por bem erradicar. Chega de ritos e tradições. Chega de latim, chega disso! Dizem: ““Não se pode admitir este pensamento! Em pleno século XXI? Não!”. Desejam ardentemente que o povo esteja livre para ir onde se sente bem; onde encontre melhor as respostas às vicissitudes da alma. A ritualística ultrapassada impede que se alcance a Deus, em espírito e verdade, não se pode sentir, nem louvar espontaneamente. As pessoas devem ser livres. Alguns desses, estão acima da autoridade papal porque a Igreja de Roma é outra coisa, outra realidade. E vão relativizando tudo!

Em outra mão moderna, há aqueles que estão acima da autoridade papal, mas não porque querem liberdade, mas porque são mais qualificados que ele, o Vigário de Cristo. Ora, o papa apostatou da fé e a Sé de Pedro está vazia, a Igreja Católica não existe. Enfim. Cada um é seu próprio papa.

Bom, o que há em comum a todos? A desobediência, a falta de norteamento, o desejo de liberdade desmedida. Uns querem agradar a todos, mas desrespeitando os ensinamentos da moral, da fé e da ética, salvaguardados até nossos tempos pela Igreja.

De fatos, vivemos uma sociedade fragilizada. Uma crise de tudo. Um sociedade que ainda se sustenta, pela graça de Deus, por um fio de cabelo, que é o fio da fé. Muitos destes ainda tem fé, mas ainda não perceberam o caminho equivocado em que se encontram.

É preciso que o mundo descubra a realidade e viva à luz da verdade. A Verdade que está acima de tudo e que nos direciona. Cristo não respondeu o que é a verdade, em minha modesta opinião, porque a Verdade estava ali, diante dos olhos dos acusadores mas eles não enxergaram. E mesmo assim, manteve-se obediente, para que em tudo se cumprisse a vontade de Deus.

Que a obediência à Verdade nos permita enxergar a tragédia em que atuamos, antes que o ato termine e não possamos alterar o fim da história, pois a verdade jamais deve ser negligenciada.

2 comentários:

  1. "O que se quer é o conforto. Um conforto que odeia qualquer forma de norma, regramento, aconselhamento ou qualquer senso de retidão."
    > Querendo ou não estamos impregnados em um sistema ao qual temos que seguir regras. O simples fato de nascermos, crescermos, estudarmos, trabalharmos, nos aposentarmos e morrermos é um aprisionamento ao qual não podemos escapar!

    "As pessoas estão desnorteadas, e isso não se quer admitir! Tudo é passageiro e tudo agora é fugaz. Nada é certo, tudo é relativo, em tudo há um “depende” e em nada se pode sustentar. Esta é a dura realidade que, infelizmente, tem mostrado fiéis, adeptos a este mesmíssimo equívoco."
    > Tudo é e tem que ser passageiro. Talvez esteja sendo "grosso" demais, porém, temos que aceitar a realidade.
    Por que te incomoda tanto o relativismo? As coisa possuem pontos de vista. Um ovo pode ser redondo dependendo do ângulo com que olha-se para ele!

    "Pois bem. Fala-se muito em crise da fé, ante os avanços da sociedade, etc. Não sei realmente se a fé está realmente em crise. Antes, penso que há uma crise de obediência."
    > Concordo plenamente!

    "cada um faz o que quer. Cada um é dono do seu nariz; cada um paga suas próprias contas; e não deve satisfações ou obediência a quem quer que seja."
    > Ninguém nunca faz o que quer. Somos todos zumbis que caminhamos para as mesmas direções! Somos escravos!
    A própria Independência é relativa. Ninguém está isento de não dever satisfação a ninguém!

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  2. Olá, querido amigo Ronald! Obrigado pelo comentário.

    Vamos ao seu comentário.

    Bom... na verdade é fato de que o homem deve nascer, crescer, estudar, trabalhar... é óbvio! Faz parte da natureza humana. Estas regras invioláveis são indiscutíveis. Quem não quer trabalhar, não coma! Simples. Isto é fato!

    As normas a que me refiro, e isto é claro, pois estamos falando de FÉ e OBEDIÊNCIA, diz respeito Às orientações morais, que sempre estiveram presentes na sociedade. As regras de civilidade, respeito recíproco, pudor, modéstia, caridade, confiança, valores construtores de uma sociedade sadia, baseada nos ensinamentos cristãos. A tais regras não se quer obedecer, pois cada um já criou para si seu regramento.

    De igual forma, ao dizer que há um desnorteamento generalizado, ante o pensamento de que tudo é fugaz, por certo que me refiro aos mesmo valores supramencionados. Não há grosseria nenhuma em ver isso e admiti-lo. É certo e indiscutível que as coisas humanas passam com grande velocidade. Nós somos passageiros: morremos. E não quero negar isso. Mas não podemos deixar que as coisas salutares e, no assunto em questão, as coisas divinas, se tornem passageiras. Diria Santa Tereza D'Avila: Deus não muda!

    De igual forma, as verdades da fé não se alteram, pois são um caminho firme para a felicidade eterna que, justamente por sua definitividade, é questionada por muitos incrédulos.

    Veja que durante o Império, era um crime, por exemplo, levantar-se contra as verdades da fé:

    "Art. 278. Propagar por meio de papeis impressos, lithographados, ou gravados, que se distribuirem por mais de quinze pessoas; ou por discursos proferidos em publicas reuniões, doutrinas que directamente destruam as verdades fundamentaes da existencia de Deus, e da immortalidade da alma.

    Penas - de prisão por quatro mezes a um anno, e de multa correspondente á metade do tempo." (Código Criminal de 1830)

    A relativização das coisas gera muitos equívocos e atrocidades, para o corpo e para a alma. Principalmente quando isto se dá DENTRO da Igreja. O relativismo é desobediente! O relativismo quer se supremo, acima das verdades supremas, pois impõe-se como questionadora de todas as realidades, minorando o sentido real das coisas e negado o que prega a Igreja... é disso que estamos falando. Os católicos, deve-se seguir o seguinte ditado: "Roma disse, a causa está encerrada". Portanto, esta é a minha revolta. Não há nada de grosseiro. Apenas uma constatação.

    Repito! Estamos falando de fé. É claro que devemos satisfação. É um requisito básico da existência e da convivência social, do contra estariamos em perfeita anarquia e, naturalmente, alguém teria que organizar a bagunça. Contudo, a Igreja não é um democracia. Portanto, sigamos o que ela nos afirma, seguramente, há cerca de 2.000 anos.

    "E as portas do inferno jamais prevalecerão contra ela"

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